Candomblé
No começo dos tempos, Olodumare criou os homens […]
Orunmilá, também chamado Obá Jeunjeum,
ou “Rei-que-Come-Alimento”, na língua dos orixás,
ofereceu-se para levar os homens ao mundo e cuidar deles lá,
com o que Olodumare concordou plenamente.
Previdente, Orunmilá consultou o babalaô,
que o mandou oferecer sacrifícios antes de partir.
Ele deveria preparar sementes de legumes e tubérculos.
O ebó foi feito.
Do Orun, Orunmilá despejou essas ofertas na Terra.
Caindo no solo, as sementes germinaram, os tubérculos brotaram.
As plantas cresceram, dando folhas, frutos e sementes,
e foi com essa abundância que Orunmilá alimentou os homens.
Os serem humanos reproduziram-se e se espalharam pela Terra toda.
Reginaldo Prandi, Mitologia dos Orixás
Conta a mitologia iorubana que o universo foi criado por Olodumare, mas, terminada a criação, ele se afastou e deixou que os orixás dessem forma ao mundo e o governassem. Por conta disso, embora os devotos do candomblé reconheçam a existência de um deus supremo da criação, não é a ele que prestam homenagem em seus cultos de grande complexidade, sutileza teológica e beleza, mas justamente a essas outras divindades mais próximas, participantes ativos do dia-a-dia das atividades mundanas.
O termo candomblé tem origem banta, tendo como raiz o quimbundo kiamdomb ou quicongo ndombe, ambos significando “negro”, tornaram-se sinônimo e referência genérica de diferentes expressões de religiosidade de matriz africana, exceção feita à Umbanda cuja origem intensamente sincrética a situa em outra categoria de estudo e observação. Segundo Nei Lopes, sambista, compositor popular, escritor e estudioso das culturas africanas, o candomblé é o “nome genérico com que, no Brasil, se designam o culto aos orixás jeje-nagôs e algumas formas derivadas, manifestas em diversas ‘nações’. Por extensão, celebração, festa dessa tradição, xirê; comunidade-terreiro onde se realizam essas festas. A modalidade original consiste em um sistema religioso autônomo e específico que ganhou forma e se desenvolveu no Brasil, a partir da Bahia, com base em diversas tradições religiosas de origem africana, notadamente da região do golfo da Guiné”.
Nesta religião afro-brasileira são feitas homenagens aos antepassados com festas, comidas e os objetos que os representam. As divindades homenageadas nos rituais dos terreiros são antepassados queridos que foram importantes para a existência dos adeptos do candomblé no presente. Nesta religião acredita-se nas energias e durantes as homenagens são feitos pedidos de revitalização das energias destes antepassados nos praticantes do candomblé. Assim acontece o transe da incorporação da energia das divindades celebradas nas pessoas que são iniciadas e fazem parte de famílias do terreiro.